terça-feira, 16 de março de 2010

Voltando...

Falar do EIV com certeza vai ser muito difícil por que muito mais do que um estágio, significa uma mudança de vida. Ao participar de um período de preparação onde pude sentir na pele o sentido de comunidade, de aceitação, e principalmente de um reconhecimento de mim no outro, de pessoas a quem hoje posso chamar de companheiros e amigos.
O período de vivência com os assentados me fez perceber essencialmente o quanto sou presa. Cheia de compromissos com a faculdade, com os serviços de casa, com meus amigos, com minha família e acabo perdendo a minha liberdade, acabando por ser moldada por ela e não a fazendo como me disse o chefe da família com quem convivi. Outra lição que apreendi de extrema importância é a de que não se pode simplesmente ignorar as injustiças e contradições que acontecem ao meu redor e até mesmo no próprio movimento,mas que tenho que lutar junto aqueles que assim como eu acreditam num mundo melhor e diferente.
A grande questão que me coloquei no momento de avaliação, e que até agora me aflinge muito é o como agir, como enfrentar essa "realidade" e também de que maneira responder a pergunta que meus amigos certamente me farão por muito tempo, como foi o EIV? Ainda acho insuficiente tudo que escrevi aqui para descrever a essa pergunta, mas por enquanto é um pouco do que consigo externar.
Como disse um amigo, o sentimento de aflição é um sinal de que me incomoda o fato de ter que voltar para casa com a consciencia de que não posso mais ficar parada, de que sinto a necessidade de estar na militância o tempo todo. Esse fato complementa uma outra fala de outro amigo que me fez enchergar que ao invés de pensar no "e agora? em que grupo tenho que me encaixar e militar?" deveria pensar no quanto a partir de agora eu sou militante, não somente por ter tido a coragem de enfrentar tudo para estar lá conhecendo um movimento, mas também por me sentir parte dele e acreditar que mesmo com tantas contradições ainda se pode construir uma comunidade através do amor e da organicidade.
A volta pra casa e para a rotina ainda não foram digeridas, assim como muitos debates, místicas e outras coisas que aconteceram nesse período de ausência e de intensa aprendizagem. Espero que aos poucos eu consiga retornar a tudo isso que ficou pra trás por tanto tempo, mas que a partir de agora serão encarados de forma diferente, por que a pessoa que as encara é diferente e vai lutar com todas as forças para que essa sementinha cresça e se multiplique sempre mais.
Acho que por enquanto esse foi um breve panorama de tantas coisas que tenho para gritar para o mundo.

"...Temos guardado um silêncio bastante parecido com a estupidez..."

2 comentários:

  1. H.
    É bom ver que você aprendeu tanto numa experiência tão única, e fico feliz em ver que você aproveitou ao maximo que pôde. Quanto a se readaptar a relidade fique tranquila, a gente se adapta ao que tiver que adaptar, então leve o tempo que precisar porque só assim você conseguirá digerir tudo o que viu e vivênciou e ao mesmo tempo descobrir o que você pode fazer daqui pra frente da melgor forma possível. As mehlores experiências são aquelas que têm efeitos duradouros em nós e que nos fazem rever quem somos e o que queremos fazer com as nossas vidas, não tenho dúvida de que esta foi uma delas e isso é ótimo, pois rever tudo de outra perspectiva é sempre válido e importante. Não se preocupe em descrever para todos como foi o EIV, tem coisas quem só foi pode saber e entender.
    Lembre-se sempre que você tem muitas pessoas aqui pra você, pessoas você para contar o que quiser, desabafar, chorar num ombro amigo, ou simplesmente para te fazer companhia. E não fique com medo de que você possa esquecer o que viveu, pois tem coisas na vida que por mais que com o tempos e tornem embaçadas ou simplesmente uma lembrança vaga sempre estarão presentes em você, no modo como você pensa dali em diante, no modo como você age e em você é a partir de agora, essa experiência estará para sempre com você de uma forma ou de outra, e se você deixar, sempre de forma positiva.
    Aproveite bem esse novo aprendizado e, agora, a sua volta para analisar tudo o que puder ao seu redor porque esse momento também fará a diferença lá na frente...acredite...
    Estou aqui do seu lado pro que der vier.
    Beijos
    A.

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  2. Hozi,
    Uma experiência como essa deve ser difícil de passar como uma mera lembrança, pois é uma vivência que foge do seu cotidiano e da sua vida até então. Acho bacana demais sua vontade e necessidade de reflexão sobre questões que agora podem ficar mais claras, mais gritantes do que antes. A autoconsciência é sempre o primeiro, e mais difícil passo, pro amadurecimento e pra mudança. Parabéns!
    Como disse a Aline, não se preocupe em explicar, pois às vezes é bem mais gostoso guardar certas coisas pra si mesma!

    Beijos,
    Ju Faria

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